VIK MUNIZ - Fundamentação Teórica do "Projeto Conscientizando"

Vik Muniz recria postal do Rio de Janeiro com lixo

Por Audrey Furlaneto (audrey.furlaneto@oglobo.com.br) | Agência O Globo

RIO - Na obra de Vik Muniz, lixo é quase tinta: preenche imagens criadas pelo artista que, em 1998, fez sua primeira aventura com resíduos e criou "Aftermath", retratos de meninos da cracolândia feitos com restos do carnaval - de guimbas de cigarro a confete e serpentina. Quase 15 anos depois, ele se prepara para "pintar" a Baía de Guanabara com material reciclável - e terá como "assistentes" pessoas do público.Vik assina o projeto "Paisagem", realização do GLOBO e do Ministério do Meio Ambiente, com patrocínio da Coca-Cola, cujo mote é recriar um dos principais cartões-postais do Rio usando material reciclável levado pelo público à tenda em que será instalada a obra, entre os dias 15 e 22. A ideia é que, nos últimos dias, o desenho pronto seja aberto apenas para contemplação.

- Nossa relação com a paisagem se constrói por imagens - diz Vik. - Acredito que é função do artista criar situações em que a sintonia com a paisagem pode ser negociada de forma pessoal. Afinal, é o homem quem cria as paisagens, tanto na própria imaginação quanto na forma como se relaciona com o ambiente.

O projeto aproveita o ensejo da Rio+20 e se fixa no Parque do Flamengo, entre o Museu de Arte Moderna e o Aeroporto Santos Dumont. Lá, numa tenda, Vik projetará no chão uma fotografia que fez da Baía de Guanabara a partir do Mirante Santa Marta. O público poderá entrar em grupos (de dez a 20 pessoas) e terá tempo para incluir seu material reciclável na imagem no chão, até que o desenho se complete.

Resíduos da Rio+20

A "paisagem" conta com outro parceiro: o Instituto Doe seu Lixo recolherá materiais recicláveis durante a Rio+20 e fornecerá material ao desenho de Vik.

- É interessante pensar que resíduos do próprio evento serão parte da obra e, mais ainda, que a obra retrata a Baía de Guanabara, onde o próprio trabalho está instalado - afirma o artista.

Para Sandra Sanches, diretora executiva do GLOBO, o jornal sempre esteve comprometido com as causas do Rio.

- Por isso, decidimos realizar algo que conscientizasse o carioca sobre como contribuir para melhorar a qualidade de vida da cidade. Ajudar a manter as praias limpas e a Baía limpa é uma forma de fazer a sua parte - afirma Sandra.- Com a participação do Vik Muniz, artista reconhecido internacionalmente, vamos mostrar na Rio+20 que é possível transformar lixo em arte. Que o ato se reflita numa preocupação diária de cuidar do meio ambiente, contribuindo para a preservação de muitas espécies.

Ao todo, o desenho terá 25 metros de largura e estará numa tenda com nove metros de pé direito. Uma passarela, instalada a quatro metros do chão, permitirá aos visitantes a vista completa do desenho, que, como define Vik, "não é uma exposição, mas um processo em que a paisagem é criada pelas pessoas".